PROJETO COMPARTILHAR

Coordenação: Bartyra Sette e Regina Moraes Junqueira

www.projetocompartilhar.org

 

 

ANASTACIO DE MORAES CAMARGO

Capitão

(atualizado em 15-novembro-2016)

 

SL VII, 76, 6-7 Capitão Anastacio de Moraes Camargo, f.º de 5-1, casou-se em 1781 em Parnaíba com Anna Maria Teixeira f.ª de Antonio Castanho da Silva e de Rosa Maria Teixeira do n.º 6-6 retro. Teve q. d.: 7-1 Capitão Manoel José de Moraes

 

Regina Moraes Junqueira

 

 

Na primeira metade do século XVIII, Fernando de Figueiró Camargo e sua mulher Izabel de Moraes moravam em Pirapora, e eram fregueses de Santo Amaro. Tiveram muitos filhos, entre eles Anastácio, batizado na Igreja de Nossa Senhora do Rosario de Mboy, no dia 28 de agosto de 1755. (família Bento de Oliveira Pires, neste site)

Matriz de Santo Amaro – Batismos – Aos 28-08-1755 com minha licença baptizou e poz os santos óleos o P Tomas de Villanova da Compª de JESUS Superior de Mboy na Igrª da mesma aldea a Anastacio filho de Fernando de Figueyro e sua mulher Izabel de Moraes forao padrinhos Francº Pereira Mendes e sua mulher Maria Mendes da freguesia da cidade de S. Paulo de que fis este assento.  Antonio Prª Ferraz.

 

Anastacio casou em Santana do Parnaiba aos 13-11-1781 com Ana Maria Teixeira, filha de Antonio Castanho da Silva e Rosa Maria Teixeira, neta paterna de José de Almeida Lara e Mariana de Siqueira, neta materna de Luiz Teixeira de Azevedo e Izabel Colaço, SL 5º, 375, 4-2

Matriz de Santana de Parnaiba –Casamentos - Anastácio de Moraes com Anna Maria - Aos treze dias do mês de Novembro de mil setecentos e oitenta e hum annos pelas onze horas da manha pouco mais ou menos recebeu nesta Igreja Matriz de Santa Anna da Villa da Parnahiba por palavras de prezente na prezença do Reverendo Padre coadjutor Jose Rodrigues de Oliveira precedendo provisão do Muito Reverendo Senhor Doutor Gaspar de Souza Leal Vigário geral Provisor Juiz dos casamentos, Capellas, resíduos, e das  justificações de genere, passados aos seis dias do prezente mês de Novembro, Anastácio de Moraes de Camargo, natural da freguesia de Santo Amaro, filho legitimo de Fernando de Figueyró de Camargo e de sua mulher Izabel de Moraes, naturaes da freguesia de Santo Amaro, netto paterno de Joam de Figueyró da Sylva e de sua mulher Messia de Moraes, naturaes da cidade de Sam Paulo, netto materno de Jose de Moraes Pires e sua mulher Izabel Gonçalves, naturaes da freguesia da Cottia, com Anna Maria Teyxeyra, filha legitima de Antonio Castanho da Sylva, e de sua mulher Roza Maria Teyxeyra, naturaes desta freguesia, netta paterna de Jose de Almeyda Lara, natural desta freguesia e de sua mulher Marianna de Siqueyra e Moraes, natural da freguesia de Jundiahy, e netta materna de  Luiz Teyxeyra de Azevedo, natural da Freguesia de São Niculau da Cidade do Porto, e de sua mulher Izabel Colaça, natural da Cidade de Sam Paulo; foram testemunhas alem de muitas pessoas, que se acharão prezentes, Martinho Álvares de Fiqueiro, homem casado, e morador na freguesia, digo morador na Cidade de Sam Paulo, o Reverendo Padre Felippe de Santiago Xavier, Maria de Nazareth mulher do tenente Jose Mauricio da Sylva, Custodia Maria de Jesus, mulher de Vicente de Moraes e Camargo, moradores nesta freguesia;  e logo no mesmo dia, mês e anno assima declarado, administrou o dito Reverendo  Padre Coadjutor aos dittos contraentes  as bençaens, que a Igreja determina, de que fiz este assento, em que me assigno com as duas testemunhas abaixo assignadas. Dia, mês e anno ut Supra

o Vigário Manoel Mendes de Almeyda

Martinho Alz de Figrº  Leme    Jose Roiz’ de Olivrª    Felippe de S. Tiago Xavier

 

Ana Maria, que também se chamou Ana Maria Castanha, foi batizada em Parnaiba aos 16-05-1746, nove anos antes do futuro marido. Quando se casaram ele tinha 26 anos e ela 35.

163 Matriz de Santana de Parnaiba – Batismos – Anna, aos16-05-1746, filha de Antonio Castanho da Sylva e Rosa Maria Teyxeyra de Azevedo. Padrinhos: Guilherme Pedroso de Moraes homem casado e Anna Ribeyra de Camargo mulher de Jose de Oliveira – o Vigario Manoel Mendes de Almeyda.

 

Anastácio e Ana Maria se estabeleceram em Pirapora onde ele vivia da criação e comercio de semoventes, principalmente mulas de carga e burros de transporte.  Nessa atividade não se utilizava mão de obra cativa, pela impossibilidade de controlar escravos e evitar fugas nas longas viagens a campo aberto. Assim, os escravos que Anastácio possuía se ocupavam das tarefas domesticas e da agricultura de sobrevivência, em estreito contato com seus senhores.

No caso do Capitão Anastácio, essa intimidade se estendeu literalmente à cama e mesa.

 

Uma das escravas do capitão, certa mulata de nome Efigenia, tinha muitos filhos, todos pardos. Dois deles, Mateus e Gertrudes, eram mais claros e significativamente parecidos com o Capitão. Essas crianças não só comiam em sua companhia como também dormiam em sua cama. E ele tinha por elas especial afeição. Eram escravas, como a mãe, e assim consideradas por todos. Mas privavam da intimidade do Capitão, a ponto dele não querer se apartar delas e as tratava “com a estimação de filhos”. Não quis ceder nenhum dos filhos de Efigenia para dotar sua filha legitima, preferiu comprar um casal de escravos para ela.

 

Com 52 anos de idade, Capitão Anastácio “morreu apressadamente”, mas não sem tempo do pároco de Santo Amaro chegar a Pirapora para lhe administrar os sacramentos. Nessa hora quis o Capitão fazer um testamento e alforriar Mateus e Gertrudes. Para acalmar o agonizante, ingenuamente e de boa fé, o padre prometeu ao Capitão que assim seria feito, na presença do sacristão e de Vicente de Moraes Pires, tio materno de Anastácio. Assim tranquilizado, morreu Capitão Anastácio aos 07-11-1807. No dia seguinte ao deixar a casa, o pároco comunicou o ocorrido para a viúva e o filho do falecido, que pelo visto estavam na casa, mas não à cabeceira do marido e pai.

Matriz de Santo Amaro – óbitos-  Aos sete de Novembro de mil oitocentos e sete no Bairro de Pirapora com Penitencia e extrema Unção faleceu apressadamente o Capitam Anastacio de Morais e Camargo de cincoenta e dois annos de idade natural e frequez desta Freguezia casado com Donna Anna maria teixeira; nam teve tempo de fazer testamento mas em seo juizo perfeito declarou em minha presença  e na das testemunhas que se acharam presentes a seo rogo Vicente de Moraes Pires e Bento Francisco de Andrade que se desse dez patacas aos herdeiros do falecido Salvador Dias que deixava forros Matheus e Gertrudes pardos seos escravos e queria por sua alma cincoenta misas; foi seo corpo amortalhado em Habito de Sam Francisco e sepultado assima das grades nesta Matriz sendo encomendado e acompanhado solemnemente.

O Vigario Anto Bernardo da Ass am

 

Sem documento formal, ficou à mercê da vontade dos herdeiros dar ou não a alforria. E eles não libertaram Mateus e Gertrudes, quer porque não gostaram da atitude de Efigenia que começou a alardear a paternidade das crianças, quer porque não queriam abrir mão dos escravos ou de seu valor. E muito provavelmente não gostavam da situação embaraçosa imposta à família legítima dentro de sua própria casa.

 

Foi aberto um processo judicial, tendo por autores Mateus e Gertrudes e por réus os herdeiros do Capitão que eram a viúva, filha e filho. Por seu procurador alegaram os autores que embora vivessem na condição de escravos não o podiam ser porque eram filhos do capitão e este antes de morrer os alforriou. Alegaram os réus que os autores sempre foram escravos, filhos de escrava, e que a fama de serem filhos do Capitão foi espalhada pela mãe deles depois da morte de Anastácio.

 

 

Testemunhas, entre elas parentes próximos do capitão, atestaram que acreditavam serem as crianças filhas dele pelo carinho com que ele as tratava e pela semelhança física. Testemunhas dos réus disseram sempre ter conhecido os autores como escravos, nunca como filhos, disso só ouviram falar depois da morte do Capitão, pelos boatos espalhados por Efigenia.

 

Decidiu o juiz a favor dos réus, sem julgar a questão da paternidade. Isso porque filhos do capitão ou não, os autores eram e seriam sempre escravos, por nascerem filhos de escrava. E que a declaração do capitão em seu leito de morte não alforriava ninguém, porque a alforria só se dava por meio de documento hábil, testamento ou escritura, o que não havia. O testamento nunciativo, feito oralmente in extremis, requeria seis testemunhas habilitadas, e só três estavam presentes. O pedido de alforria foi indeferido.

 

Dos testemunhos apresentados e das declarações que o constrangido padre vigário fez por escrito, resulta forte impressão que Mateus e Gertrudes foram de fato filhos do Capitão Anastácio. Filhos bastardos, por nascerem de mãe escrava.

 

Processo de Alforria de Matheus e Gertrudes

 

No inventário do Capitão Anastacio, aberto pela viúva em agosto de 1808, tanto Efigenia quanto Gertrudes e Mateus, foram avaliados como escravos e arrolados em meio aos bens a serem partilhados entre a mulher e os filhos legítimos do capitão.

Arq do ESP – Tribunal de Justiça

Inventario de ANASTACIO DE MORAES CAMARGO-  - 1808

Santo Amaro, em casas e citio que foi do Inventariado Cap Anastacio de Moraes Camargo – Ago 1808

Disse a viúva inventariante que seu marido faleceu no citio do bairro de Pirapora termo da freguesia de Santo Amaro termo da Cidade de São Paulo aos sete de novembro de 1807. No estado de casado, só teve um casamento. Assinou o termo de declaração seu filho o Alferes Manoel José de Moraes

Titulo dos erdeiros

Declarou a viúva inventariante Dona Anna Maria Teixeira que do único matrimonio ficaram dois filhos-

O Alferes Manoel Jose de Moraes de vinte anos pouco mais ou menos, vive em companhia dela inventariante

Dona Izabel Maria de Moraes Pires, solteira 22 annos mais ou menos, vive em companhia dela inventariante

Entre os bens –

O sitio de Pirapora com suas casas e benfeitorias – 1.638$600

Entre os escravos:

Estebão mulato de 23 annos; Joaquim mulato claro 21 anos; Matheus (10 anos) mulato claro (102$400); Francisco mulato claro 6 anos; Maria mulata clara 18 anos; Gertrudes mulata clara 16 anos (128$000); Efigenia mulata clara 44 anos (64$000); Raimundo criolo 24 anos (128$000); Diogo 44 anos (89$000); Efigenia criola mulher de Diogo 38 anos; Quiteria criola 7 anos; Joaquina criola 4 anos;

Montemor: 2.368$740 – dividas 37$620

Montemor a dividir 2.331#120

 

Ana Maria viveu mais alguns anos em sua casa no sitio de Pirapora, onde faleceu em 1821.

Matriz de Santo Amaro – Óbitos- Aos  16-07-1821 no bairro de Pirapora com todos os Sacramentos faleceu Dona  Ana Maria Teixeira  natural  de Parnahiba com setenta  annos  viuva do Capitam Anastacio de Moraes Camargo; seo corpo amortalhado em habito de Sam Francisco foi sepultado na Capela do Rosario por ser irmã com recomendação.

 

Anastacio e Ana Maria batizaram Francisco, seu filho primogênito, em Santana do Parnaiba aos 06-06-1783.

Igreja Matriz de Santana de Parnaiba – Batismos- Aos 06-06-1783, Francisco, filho de Anastacio de Moraes Camargo e sua mulher Anna Maria Teixeira; forão padrinhos Vicente de Moraes Camargo cazado e Ursula da Roxa Franca solteira filha de Lourenço Franco todos fregueses desta Igreja.

 

Provavelmente morreu na infância porque ao falecer Capitão Anastácio deixou apenas dois filhos que foram seus herdeiros:

Cap 1º Izabel Maria de Moraes

Cap 2º Manoel José de Moraes

 

 

Assinaturas