PROJETO COMPARTILHAR

Coordenação: Bartyra Sette e Regina Moraes Junqueira

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Pedro Nunes e Catarina de Pontes

 

 

 

Regina Moraes Junqueira

 

 

Em 1598, ao requerer chãos no caminho do Ibirapuera em conjunto com Manoel Fernandes e Fernão Marques, Pedro Nunes declarou ser filho de conquistador antigo (Datas 45, neste site), o que via de regra significava ser nascido na terra, filho de pai europeu. Era sapateiro, conforme está nas Atas da Vila de São Paulo e como atestam os instrumentos desse oficio arrolados no inventário de seus bens.

Na década de 1580 começou a fazer parte ativa na governança da terra, participando de ajuntamentos e assumindo cargos na câmara da vila de São Paulo onde foi alcaide entre 1586 a 1589, procurador do concelho em 1598. Em 1602 foi ao sertão na bandeira de Nicolau Barreto, conforme ele mesmo diz em seu testamento: ”...estando eu no sertão em companhia de Nicolau Barreto..”

Foi vereador em 1606 e juiz juntamente com José de Camargo em 1612.

ATAS da Camara da Vila de São Paulo, Arquivo Municipal de São Paulo, 1914

Vol 1,fl 291 - Termo de como foi aceitado por alcaide Pº nunez para servir nesta vª sw san Paulo

Ao primrº dia do mês de novembro de m.d. e oitenta e seis anos na dita câmara foi aceytado por alcaide desta villa de sam Paulo pº nunez capatrº pª qe sirva o dito oficio par tpõ três anos que comecarão de hoje por diante ....

Vol 1, Fl 345 - 07-02-1588 – Pedro Nunes assinou junto com os demais oficiais aprovando a construção da Igreja Matriz, aguardando somente a provisão do governador.

Vol 1, Fl 442 – 1592 - Participou de ajuntamento exigindo auxilio no carregamento compulsório de farinhas da vila para Santos.

Vol 2, Fl 35 – 1598 - eleito procurador do conselho, prestou juramento “Aos onze dias do mês de Janeiro do anno de mil e quinhentos e noventa e oito anos na câmara desta vila ... procurador do conselho pº nunes sapateiro...” Prestou juramento aos 18-01-1598.

Vol 2, Fl 149 – ANNO DE 1606 – Aos vinte e coatro dias do mês de junho de mil seiscentos e seis anos nesta vills nacaza da câmara ai estão juntos os oficiais a saber luiz fez e pº nunes vreadores e dos roiz juiz e mel aº procurador.....

Vol 2, Fl 30l – ANNO DE 1612 – termo de juramto dado aos oficiais novos juízes e vreadores e procurador do concelho

Nesta vila de são Paulo em o primrº dia do mês de janrº do ano prezente de muil seiscentos e doze anos nesta dita vila na casa de conselho dela se abriu a pauta e eleisão que este prezente año se fez nesta dita vila pela qual consta saíre por juízes jozepe de Camargo e pero nunez e vreadores giraldo correa e vicemte bicudo e procurador do comselho âtº camacho.... 

 Vol 2, fl 33, assinatura.

 

Pedro Nunes casou primeira vez com Izabel Fernandes falecida com testamento redigido aos 22-04-1607 quando estava doente (SAESP 5º, neste site). Nele, além de determinações pias e recomendações ao marido, à filha e ao genro, comprou com sua meação a alforria de Lourenço, filho de Pedro Nunes. Viveu ainda uns meses e veio a falecer em agosto do mesmo ano. Por sua morte se fez o inventário dos bens do casal, iniciado aos 10-09-1607 no sitio em que moravam na paragem Ipiranga. Pedro e Izabel tiveram apenas uma filha, Maria Nunes, que foi casada com André Fernandes. Maria faleceu antes do pai e teve o filho único, Pedro Fernandes que herdou diretamente no inventário do avô materno. Pedro Fernandes casou com Ana Tenório, filha Clemente Alvares e Maria Tenório, com geração em SL VI, 432 e seguintes.

 

Em seguida Pedro Nunes casou com Maria Jorge, filha de Gonçalo Madeira e Clara Parente. Maria Jorge faleceu com testamento datado de 18-03-1810 e com inventário aberto aos 30-05-1611, SAESP 3º neste site. Sem filhos do segundo leito, deixou duas filhas do primeiro marido Francisco Barreto.

 

Catarina de Pontes, com quem Pedro Nunes se casou pela terceira vez, era filha de Bartolomeu Gonçalves, originário da Capitania do Espirito Santo e sua terceira mulher Domingas Rodrigues, com geração em SL I, 23, 2-1 onde ele consta erroneamente como filho de Braz Gonçalves o moço. Domingas foi irmã de Gaspar Vaz Guedes, o fundador de Mogi das Cruzes, família “Gaspar Vaz Guedes”, neste site, com outras informações da família de Catarina. (Testamento de Bartolomeu Gonçalves: “...minha mulher Domingas Rodrigues deixo por minha testamenteira que ela faça como eu fizera por ela, e em sua ajuda ao seu irmão Gaspar Vaz....” 

Catarina havia sido casada primeira vez com Salvador de Lima, filho de Gonçalo Pires e Beatriz Pires, irmão de Manoel Pires (SL. 2º, 5, 2-1, onde não é citado o pai) e irmão também de Maria Rodrigues casada com Domingos de Muros (Primeiras Famílias do Rio de Janeiro - Rheingantz- vol. 2, 652).

Datas: 36 (neste site). Francisco Ribeiro e Domingos de Muro - 31/10/1598 - Genros de Gonçalo Pires.

Salvador partiu em 1609 com a bandeira de Martim Rodrigues ao sertão dos bilreiros, onde morreu. Segundo noticias que chegaram à vila de São Paulo em 1612, a bandeira foi completamente destroçada e seus participantes mortos. Pouco depois Catarina se casou com Pedro Nunes, a julgar pela idade do primogenito de ambos.

 

Catarina faleceu com testamento redigido em casa de seu pai, aberto aos 22-02-1620. Por seu falecimento foi aberto inventario dos bens do casal na fazenda do Ipiranga em março de 1621.

No decorrer do processo tanto seu pai, Bartolomeu Gonçalves, quanto o marido Pedro Nunes, são considerados homens velhos. Viviam às turras. Bartolomeu, como tutor do neto Salvador, insistia para que Pedro arrolasse o colchão em que dormia e a roupa que vestia. Pedro se recusava, alegando que não ficava bem que o “viúvo andasse nú”, nem adoecesse um velho por falta de colchão.

Pouco tempo depois, em seu próprio testamento, Pedro pediu ao velho amigo e sogro que fosse seu testamenteiro e tutor de seus filhos.

Teve Catharina do 1º marido o filho único:

- Salvador de Lima com 12 anos em março de 1621, teria nascido em 1609, pouco antes ou depois da ida do pai ao sertão. Foi tutelado do avô materno e em 1626, com a morte deste, foi seu curador "Antonio Raposo Tavares para que ele fosse curador de Salvador de Lima seu primo, por não haver outro parente mais chegado". O parentesco seria por afinidade, já que a mulher de Antonio Raposo era filha de Manoel Pires. Como seu pai, Salvador também foi sertanista. Habilitou-se ao sacerdócio antes de 1635 conforme testamento de Juzarte Lopes: “Declaro que se dem três novilhas ao padre Lima, meu cunhado.” Com o nome de Padre Salvador de Lima do Canto, sua assinatura aparece em muitos documentos ecliasiasticos de São Paulo.

 

Pedro Nunes faleceu com testamento redigido em 1623, que recebeu o “cumpra-se“ aos 31-12-1624. Nele declarou dois filhos da última mulher “uma menina e um menino”, provavelmente porque Ana, a caçula, já era falecida. Ficando por herdeira legitima só uma filha fêmea, a pequena Maria, Pedro deixou para ela suas joias e alfaias, pedindo aos filhos e neto “que se não tire de minha filha Maria cousas destas que não tenho outra..” Deixou dois mil réis de “esmola a minha cunhada mulher que foi de João de Calyx” e também dois mil reis para cada uma das duas filhas dela.

De bens de raiz foram arrolados em seu inventário a fazenda no Ipiranga em que morava com casa de taipa de pilão, mais um sitio na roça (seriam as terras nas bandas de Santo Amaro), terras em Jarabatibussu a caminho do mar em sociedade com André Fernandes e Baltazar Nunes. Na vila, uma data de chãos e outra em sociedade com André Fernandes e Manoel Fernandes. Além de terras compradas de Geraldo Correa que "foram de Ana Rodrigues avó de sua mulher e lhas deu em casamento".

 

Além da prole legítima, Pedro Nunes teve filhos naturais(n) e adulterinos(a), havidos com índias da terra.

 

1a Lourenço Nunes que parece ser o mais velho, filho de Leonor, índia cativa.(inventarios de Maria Jorge e Izabel Fernandes). Lourenço morreu no sertão antes do pai e não entrou nem foi representado no rol dos herdeiros de Pedro Nunes, provavelmente porque nasceu cativo e seria bastardo. Teve Lourenço Nunes um filho:

1a-1. Antonio Nunes, nascido antes de 1607. Seus direitos sobre os índios capturados por seu pai no sertão foram ferrenhamente defendidos pelo avô Pedro Nunes, tanto nos inventários de suas mulheres quanto no próprio testamento (SAESP 38º, neste site). Antonio casou primeiro com Maria Batista, falecida em 1639 (inventario SAESP 12º neste site). Casou segunda vez com Catharina de Sampaio, filha de Gonçalo Lopes. Foi morador no termo de Santana do Parnaiba onde redigiu seu testamento aberto aos 05-04-1643. Nele cita um tio de nome Belchior, provavelmente o irmão de sua mãe casado com uma índia da aldeia que era “da minha obrigação” e lhe prestou bons serviços. Um primo, Paulo Nunes lhe devia um colete. Pediu ao tio Jacome Nunes que fosse testamenteiro e curador de seu filho. Não teve filhos com a segunda mulher, porem teve da primeira:

1a-1-1 Antonio Luiz Nunes. Em 1656 estava casado.

 

2n Jacome Nunes. Nascido por 1574, em 1649 declarou ter 75 anos no inventário de Domingos Fernandes Coxo, SAESP vol. 36º neste site. Filho natural, alfabetizado (conforme atesta sua assinatura Atas CVSP Ano 1612:

Jacome seria filho natural, havido quando Pedro Nunes era solteiro ou viúvo e por isso herdou nos bens do pai juntamente com os filhos legitimos. Em 1643, no inventário do sobrinho Antonio Nunes, ele se escusou da curadoria do órfão declarando ter 10 a 12 filhos. Jacome casou com Helena Dias com quem teve ao menos q.d:

2n-1 Izabel Rodrigues casada com Gaspar Dias Peres, inventariado em 1654 (SAESP vol. 47º, neste site). Em dezembro de 1655 Izabel estava casada com Manoel Machado de Azevedo, moradores em Santana do Parnaiba.

          Segundo o inventário de Gaspar, ele e Izabel foram pais de:

2n-1-1 Gaspar Dias, o moço, que ficou fora do rol dos herdeiros “por estar cúmplice da morte de seu pai”

2n-1-2 Jorge Dias Peres, já casado em março de 1659

2n-1-3 Ascença

2n-1-4 Domingos

2n-1-5 João Peres, em 1670 recebeu sua parte da herança paterna

2n-1-7 Salvador

2n-1-8 Izabel Rodrigues, já casada em abril de 1669 com Pedro Sardinha 

Nota: Teve Gaspar a filha Maria Martins que, já viúva em 1654, não quis entrar a colação.

 

2n-2 Paulo Nunes, assinou pela irmã no inventário supra. Provavelmente o que devia um colete ao primo Antonio Luiz Nunes.

2n-3 João Nunes, nascido por 1635 (inventário de Gaspar Nunes Peres)

2n-4 filha, casada antes de 1643 com João Fernandes (ou Rodrigues) Bragança (inventário de Domingos Fernandes Coxo e de Antonio Antunes vol. 38º, neste site);

2n-5 filha, também casada antes de 1643 com Alvaro Dias Colares (idem)

2n-6 Antonio Nunes, mencionado no testamento da irmã Maria.

2n-7 Maria Nunes, casada com Izaac Dias Carneiro, nascido por 1604, filho de Belchior Carneiro e Hilaria Luiz (inventário paterno SAESP vol. 2º, neste site). Moradores em Parnahiba onde, no sitio do pai, ela ditou seu testamento aos 27-04-1643, pedindo para ser sepultada no convento de São Bento. Conforme seu inventario, SAESP neste site, foram seus filhos:

2n-7-1- Helena Dias, nascida por 1630

2n-7-2- Maria Nunes, com onze anos em 1643, em setembro de 1647 já casada com Antonio Fernandes Pais.

2n-7-3- Belquior Dias Carneiro, nascido 1633

2n-7-4- Antonio, por 1636

2n-7-5- Jacome, por 1637

2n-7-6- Andreza, por 1638

2n-7-7- Ana, por 1639

2n-7-8- um filho falecido depois da mãe, durante o inventário.

Nota: Teve Izaac Dias Carneiro a filha  Teresa Dias, legatária no inventário de Izabel de Barcelos (SAESP vol. 36º, neste site).

fls. 225 - digo eu Izaque Dias Carnero que é verdade que passei esta citação por minha filha Taresa Dias de uma esmola que deixou Izabel de Barselos defunta no seu testamento uma rapariga por nome Asensa e assim recebera a dita esmola e eu como pai e curador passo esta a Gaspar Favacho para sua descarga por se passar na verdade passei este por mim assinado hoje 25-6-1649 Izaque Dias Carnero //

 

3n Baltazar Nunes, falecido com testamento redigido aos 29-05-1623, aberto aos 23-06 do mesmo ano. Bartolomeu Gonçalves o tinha por bastardo quando requereu ao juiz no inventário de Pedro Nunes “que não desse partilha a Baltazar Nunes porquanto não era herdeiro nesta fazenda por ser feito depois dele casado..” Mas no mesmo dia, André Gonçalves pediu ao juiz que desse procurador a Jacome Nunes e aos órfãos filhos de Baltazar Nunes por estarem ausentes. Baltazar faleceu pouco antes do pai e teve inventario de seus bens aberto aos 24-07-1623 na fazenda em que morava no Ipiranga, neste site, SAESP vol 6. Deixou a viúva Izabel Dias, que casou depois com Diogo de Fontes (S.L. 1º, 45, 3-11).

Teve cinco filhos de seu casal e uma filha natural:

3n-1 Pedro Nunes Dias, nascido por 1612 e falecido em 1647. Foi casado com Ana de Almeida (ou de Proença), filha natural de Francisco de Proença falecido em 1638 (SAESP vol. 11º, neste site), neta paterna de Antonio de Proença e Maria Castanho (SL. 4º, 384, 2-5).

Segundo o inventário de Pedro, neste site, SAESP vol. 34º, foram pais de:

3n-1-1 Francisco, nascido por volta de 1637

3n-1-2 Pedro, por 1639

3n-1-3 Baltazar Nunes, nascido por 1641, em 1632 assinou por sua mãe no inventario de Antonio de Almeida.

3n-1-4 Inácio, por 1642

3n-1-5 Bastião, por 1644

3n-2 Maria Nunes, nascida por 1614. Casou primeiro com Antonio de Almeida falecido em 1636 (SAESP vol. 10º, neste site), Maria foi acusada de participação no assassinato do marido, juntamente com dois índios de sua administração. Provavelmente foi absolvida ou perdoada porque em 1642 estava livre e casada ha algum tempo com João Fernandes Camacho.

          Antonio e Maria tiveram:

3n-2-1 Afonso, nascido por 1632

3n-2-2 Sebastiana, com cinco meses em 15-08-1636.

3n-3 Madalena, nascida por 1616

3n-4 Lourenço, nascido por  1619

3n-5 Izabel, nascida por 1621

3n-6n Paula, filha natural perfilhada em testamento, que vivia em casa de André Fernandes, cunhado de Baltazar.

 

4a Inocência Nunes (ou Dias), filha bastarda de Pedro Nunes, aquinhoada pelo pai em testamento, já que não podia herdar no inventário. Casou com Manuel de Alvarenga, natural da Ilha da Madeira, falecido em 1639 com testamento redigido em Santana de Parnaíba na fazenda do Capitão André Fernandes, filho de Jorge de Alvarenga, natural de Lamego e de Maria Gomes, natural da Ilha da Madeira. Tinham terras em Pirapora, termo da vila de Santana de Parnaiba, vizinhas às de Jacome Nunes, obtidas por sesmaria dada por Álvaro Luiz do Valle aos 05-11-1625. Nesse ano Manoel e Inocencia já estavam casados. Segundo testamento de Manoel, neste site SAESP vol 14º, foram pais de:

4a-1 Sebastiana

4a-2 Jorge

4a-3 Maria

4a-4 Lázaro